Estratégia amplamente adotada por prefeituras e governos dos estados para o combate à dengue, o fumacê contém substâncias que fazem mal à saúde e tem eficácia questionada por especialistas.
Repassados às gestões pelo Ministério da Saúde para uso em surtos e epidemias de arboviroses, o fumacê geralmente utiliza um inseticida formulado a partir da associação dos químicos imidacloprida e praletrina, substâncias classificadas como neonicotinoide e piretroide, respectivamente.
Os neonicotinoides, usados também na agricultura, são proibidos na União Europeia desde 2018. O composto leva à interrupção dos estímulos nervosos nos insetos e é associado ao declínio global das abelhas. Com composição semelhante à da nicotina, o contato constante com a imidacloprida é associado a casos de intoxicação e a sintomas como vômitos, falta de ar e tontura, de acordo com o Centro de Informações Nacional de Pesticidas dos Estados Unidos.
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Um estudo de caso publicado no Indian Journal of Critical Care Medicine, da Sociedade Indiana de Medicina de Cuidados Intensivos, aponta que a substância já foi utilizada para tentativa de suicídio. Ao ingerir uma quantidade da imidacloprida, o paciente teve hipocalemia (baixo nível de potássio), depressão do sistema nervoso central e parada respiratória.
Para a médica do trabalho Lia Giraldo, coordenadora do grupo temático de saúde e ambiente da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), a aplicação de produtos usados na agricultura para o controle do vetor de arboviroses –o mosquito Aedes aegypti– é feita sem análise do impacto na saúde humana.
“Temos um grave problema de regulação, controle e fiscalização. É muito interessante quando a saúde pública toma emprestado produtos que foram feitos com outro objetivo”, diz.