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quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Brasil deixa de notificar 45 mil casos de sífilis gestacional em uma década, diz pesquisa


Em uma década, o Brasil deixou de notificar ao menos 45 mil casos de sífilis gestacional, o que aumenta o risco de transmissão vertical da doença, nascimentos prematuros e mortes de bebês. A estimativa inédita é de um estudo publicado na edição de setembro do The Lancet Regional Health – Americas feito a partir de um modelo estatístico que considera fatores sociodemográficos, indicadores de acesso aos serviços de saúde e variáveis relacionadas à qualidade dos dados disponíveis para avaliar registros entre 2007 e 2018. Em relação ao total de casos registrados no período, o índice de subnotificação foi de 13%.



O modelo também permitiu a identificação de disparidades regionais. As maiores taxas de subnotificação foram encontradas nas regiões Nordeste e Norte, com liderança de Roraima, com 30%. No Sul, assim como em parte do Sudeste e do Centro-Oeste, os estados não ultrapassaram os 10%. O menor nível foi detectado em São Paulo, 3,59%. Para os pesquisadores, os resultados evidenciam que há falhas na assistência dada a gestantes e que a incidência e a detecção da sífilis gestacional estão associadas a condições socioeconômicas e ao acesso a serviços de saúde, como um pré-natal adequado.


“Não estamos conseguindo acompanhar as gestantes adequadamente, captá-las no início da gestação, submetê-las a todos os exames necessários e até orientá-las sobre como evitar a sífilis e outras doenças”, diz Maria Yury Ichihara, vice-coordenadora do Cidacs (Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde), da Fiocruz Bahia, e co-coordenadora do projeto que deu origem ao artigo. Na avaliação dela, os gargalos persistem ainda hoje e podem até ter aumentado. “Mesmo que o sistema de detecção tenha melhorado, o sub-registro deve ter piorado, porque houve desarticulação e desinvestimento no SUS no período.”