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terça-feira, 13 de setembro de 2022

Jornalista Silvio Lancelotti morre aos 78 anos em São Paulo


O jornalista Silvio Lancelotti morreu nesta terça-feira (13) devido a sequelas decorrentes de um infarto.
Os três animais foram os companheiros finais da vida do jornalista. Andavam sem parar pelo quarto dele, deitavam-se em cima de livros, espreguiçavam-se sobre a televisão.


Foto: Reprodução


Lancellotti teve de aprender a ser como seus bichos de estimação: caseiro. Era uma mudança e tanto para quem não gostava nem de passar muito tempo em quartos de hotéis nas viagens a trabalho. Como definia, jornalismo é baseado em reportagem e ele não se considerava apenas um repórter.
“Eu era um puta repórter.”


Foi assim que cobriu as Copas do Mundo de 1990 e 1994 para a Folha de S.Paulo. Citava de memória as matérias que fez, lembrava-se de trechos. Dizia ter sido reconhecido pela RAI, a rede de TV estatal italiana, como o jornalista internacional que mais produziu matérias no Mundial realizado no país.
Rodou 30 mil quilômetros em 40 dias com um carro alugado pelo jornal, ressaltava.


Lancellotti não gostava apenas de contar o que escreveu. Tinha mais prazer em relatar o processo, como chegou até a reportagem enviada. Eram histórias, muitas vezes, mais fantásticas do que o texto em si.
Como a afirmação de que saltou de um helicóptero ainda em voo na volta de Cagliari para Roma após um Holanda x Inglaterra. Ou como dizia ter parado o carro no meio da estrada, nos Estados Unidos, para telefonar à redação e informar que Maradona havia tido teste positivo no doping após o jogo contra a Nigéria, em 1994.
Nas colunas que redigiu como articulista, colocou no vocabulário do futebol brasileiro termos esquecidos, como “cotejo” e “pugna”, em vez de “partida” ou “jogo”. Algo que havia ocorrido na semana anterior poderia ser no “próximo passado.”


Lancellotti tinha orgulho de resgatar essas expressões. Acreditava dar uma contribuição cultural para o jornalismo esportivo.
Como comentarista do Campeonato Italiano, marcou época na Bandeirantes entre o final dos anos 1980 e o início dos 1990. Depois faria o mesmo na ESPN. Suas histórias na emissora se tornaram lendárias. E ele parecia ter uma explicação desconhecida para tudo. Até para o motivo real para o Big Mac ter picles. Seria uma homenagem ao Brasil, jurava.


Os relatos eram tão rocambolescos que o grupo humorístico Hermes e Renato criou Milton Bollotti, personagem que usava palavras em italiano e contava causos exagerados. A aparência, o jeito de falar e a gradiloquência eram claras referências a Lancellotti. O homenageado achava graça. “Morria de rir”, era a sua própria definição.
“Acho um barato. Coloquei uns vídeos em sequência e mostrei para os meus netos. Vou ficar bravo? Antes do Hermes e Renato, quando eu ainda tinha programa de gastronomia, o Casseta & Planeta inventou o Silvio Lanchonete, feito pelo Bussunda”, lembra.