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segunda-feira, 26 de março de 2018

Morre Ana Fonseca, uma das criadoras do Bolsa Família

Ana Maria Medeiros da Fonseca faleceu na manhã deste domingo, dia 25, Ana Maria Medeiros da Fonseca, coordenadora associada do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP) da Unicamp. Ana foi secretária executiva do Ministério do Desenvolvimento Social (fevereiro/novembro 2004) e Analista de Políticas Sociais da Oficina do PNUD para a América Latina e o Caribe (2005-2006). A pesquisadora será velada nesta segunda-feira (26), das 7 às 9h45 no Cemitério dos Amarais (Rua Sylvia da Silva Braga, 3212, Campo dos Amarais) em Campinas. Em seguida, 10 horas, seguirá para o Crematório Municipal da cidade.
Trajetória acadêmica
Ana Fonseca concluiu a graduação em Historia na Unicamp em 1981 e, em seguida, cursou o mestrado em História Social e do Trabalho, também na Unicamp, concluído em 1991. O doutorado foi em História Social, na área de família e relações de gênero, na Universidade de São Paulo finalizado em 2000. Era pesquisadora do Núcleo de Estudos em Políticas Públicas da Unicamp, desde 1987.
A dedicação ao estudo dos programas de distribuição de renda levou Ana Fonseca, no inicio da década de 1990, e na qualidade de pesquisadora do NEPP, ser convidada para acompanhar e assessorar o programa chamado ‘Renda Mínima’ implantando na cidade de Campinas, durante a gestão do então prefeito José Roberto Magalhães Teixeira. “Precisamos deixar claro que foi no governo do Magalhães Teixeira que nasceu o primeiro programa de distribuição de renda mínima no país”, disse Ana Fonseca num vídeo documentário sobre sua carreira profissional gravado pelo NEPP. Nesse depoimento Ana Fonseca destacou ainda a importância que esse programa criado em Campinas teve para a implantação do Bolsa Família mais de uma década depois.
No inicio da década de 2000 Ana Fonseca foi convidada para coordenar o Programa de Garantia de Renda Mínima do município de São Paulo, durante a gestão da prefeita Marta Suplicy. Nessa época existiam vários programas de distribuição de renda como Renda Mínima, Bolsa Escola, Bolsa Luz, Bolsa Gás e vários outros implantados pelos executivos dos três poderes. Foi na prefeitura de São Paulo que Ana Fonseca iniciou o lento caminho de estudos visando à unificação dos vários programas de distribuição de renda, em um único cartão digital.
Foi a partir dessa experiência, na prefeitura de São Paulo, que fez com que Ana Fonseca fosse convidada para coordenar o Programa Bolsa Família durante a gestão do primeiro governo Luiz Inácio Lula da Silva de outubro 2003 a janeiro de 2004. Ela exerceu ainda o cargo de Secretária Executiva do Ministério do Desenvolvimento Social de fevereiro a novembro 2004.
Uma carreira de destaque
Todos seus colegas de trabalho são unanimes em afirmar da importância do trabalho acadêmico e das aplicações práticas do conhecimento construído por Ana Fonseca, durante os anos de atividade na academia e em instituições governamentais.
O atual coordenador do Núcleo de Políticas Públicas, professor Carlos Etulain, que conviveu com Ana Fonseca durante várias décadas e acompanhou de perto sua trajetória profissional destacou que “os estudos sobre transferência de renda desenvolvidos por Ana Fonseca são referência nacional e internacional”. Para Etulain, “Ana enfrentou cada desafio com capacidade impar e grande entusiasmo e soube combinar alegria, integridade política, intelectual e sensibilidade social”.
Etulain destacou que das melhores lembranças do convívio com Ana “ficam seus ensinamentos e a felicidade compartilhada nas valiosas horas de trabalho que Ana dedicou a instituição e aos amigos e amigas”.
A médica e pesquisadora Carmem Lavras, ex-coordenadora do Núcleo de Políticas Públicas da Unicamp, destacou que a trajetória profissional de Ana Fonseca “foi marcada por importantes contribuições no campo das políticas sociais e, em particular, por aquelas focadas no enfrentamento da pobreza, geração de renda”. Lavras lembrou ainda que Ana Fonseca “atuou no campo da avaliação de políticas públicas, tendo participado do grupo inicial de pesquisadores do NEPP e muito contribuiu com a consolidação desse campo de estudos no país, na década de 1990. Foi estudiosa, foi gestora, foi uma militante política que nunca se afastou de suas causas e, que sempre foi aberta ao diálogo e a escuta de outras opiniões, coisa rara nos dias atuais”.

Ao finalizar seu depoimento Carmem Lavras destacou que “Ana foi uma mulher guerreira, sem nunca ter se afastado do campo de batalha em defesa de um país mais justo e solidário. Foi uma pessoa alegre e descontraída e que deixará muitas saudades para nós amigas e amigos de trabalho e de vida”.